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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Carta do GT 20 da Anped e Organizações da Psicologia sobre o Ensino híbrido ao CNE

À Exma. Sra. 
Maria Helena Guimarães de Castro
Presidente do Conselho Nacional de Educação 

Em atendimento à Consulta Pública aberta pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no período de 16/11/2021 a 26/11/202, referente às Diretrizes Gerais sobre a Aprendizagem Híbrida, ponderando que a missão do CNE é “[...] a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera de competência, assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade”(1) , e após estudos do contido nos documentos disponibilizados, Relatório e Projeto de Resolução, apresentamos nossas considerações. A situação de exceção provocada pela Pandemia Mundial da Covid-19 afetou drasticamente países, povos e grupos, de diferentes modos e em diferentes escalas. Ante a sua gravidade e a quantidade de vítimas, adoecidas e/ou mortas, como relata a Organização Mundial de Saúde, além de diferentes agências nacionais e internacionais, os impactos da pandemia têm sido amplamente estudados por diferentes áreas da ciência e setores/organismos da sociedade.

O setor da educação formal foi altamente impactado no Brasil, em seus níveis, etapas e modalidades, por isto, tal como se deu no âmbito da Saúde, pesquisadoras/es e profissionais da educação realizam pesquisas e intervenções cujos resultados vêm sendo expostos em publicações indexadas e em eventos acadêmico-científicos, como, também, fora desse âmbito, atendendo às urgências que se apresentam às famílias, aos estudantes e à sociedade como um todo. Os impactos da Pandemia na promoção das desigualdades de toda ordem têm sido considerados nesses estudos e intervenções, que se deparam com o anúncio da produção do fracasso escolar junto às classes mais pobres, matéria muito bem analisada e enfrentada desde, sobretudo, a década de 1980. Por isso, está no horizonte desses estudos e proposições a defesa de que a escola possa contar com aquilo que de mais complexo e avançado a humanidade tem produzido, de modo a se garantir o bom ensino, aquele que promove a aprendizagem e movimenta o desenvolvimento tanto dos que ensinam, como dos que aprendem. Assim, defende-se que as elaborações/produções simbólicas e materiais já conquistadas possam se fazer presentes e garantir tecnologia de qualidade nos espaços e ambientes de educação formal, em especial os referentes às redes públicas de ensino - como seria o caso, por exemplo, de tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).

Com a Pandemia, noticiou-se amplamente quanto as pessoas almejaram/almejam os encontros presenciais das famílias, das(os) trabalhadoras(es), das(os) professoras(es) e estudantes, entre outros, como um dos fatores fundamentais para a saúde física, mental e para se levar adiante a formação humana. Além dos encontros presenciais, colocou-se em evidência a importância das(os) profissionais da educação e mostrou-se a necessidade de se valorizá-las(os). Em parte, isso se notou com um grande percentual de famílias que se depararam com atividades para as quais não estavam adequadamente preparadas, referentes ao acompanhamento escolar de suas(seus) filhas(os). Nesse contexto inesperado, e diante de diferentes modos de gestão da Pandemia, o ensino híbrido se apresentou como uma alternativa remediativa. À luz de um conjunto de documentos legais e teórico-metodológicos que orientam e sustentam a educação brasileira, que desde os anos 1990 vem se empenhando em universalizar a Educação Básica, em ampliar as ofertas do Ensino Superior e enfrentar as assimetrias que por ela se evidenciam, as alternativas encontradas devem ser mais bem investigadas e analisados os resultados efetivos que têm produzidos.

Uma força tarefa dos agentes sociais implicados se faz urgente, e isso demanda ampla divulgação, gerando sensibilização e envolvimento dos mesmos, com tempo adequado para o propósito. Além disso, é importante evidenciar que uma consulta pública voltada para alterações na educação de tal dimensão jamais poderia ter sido colocada de maneira aligeirada com tão poucos dias, impedindo a realização de um amplo debate com a sociedade civil organizada. Ante esses apontamentos, entre outros que têm sido alvo de debates por áreas da ciência e campos profissionais como Psicologia, Pedagogia, Serviço Social, Sociologia, entre outras. Diante do exposto, os grupos/representantes signatários desta manifestam-se contrários à adoção do referido ensino híbrido, levando em conta os argumentos expostos a seguir.

1 - A aprendizagem híbrida não é conceito que se sustente; não há teorizações suficientes que fundamentem concretamente a possibilidade de efetiva aprendizagem de todos/as estudantes nessa modalidade.

2 - A modalidade “híbrida” não é regulamentada no âmbito da educação.

3 - Não há resultados que subsidiem a efetividade das estratégias emergenciais utilizadas no contexto da pandemia. O que precisa haver é uma pactuação para que as escolas e/ou as redes possam recuperar as perdas ocorridas, com reorganização estrutural, o que implica em ofertas de serviços especiais, contratação de profissionais, atividades adequadas à idade-série, reorganização curricular para dar continuidade ou recuperar o que ficou pendente com a pandemia.

4 - Parte significativa de escolas/instituições não têm sequer acesso à internet, ou ele é insuficiente - embora há que se considerar que o uso de tecnologias não é uma metodologia em si. As tecnologias devem ser aprimoradas e empregadas, mas na escola devem estar a serviço do ensino que promove aprendizagem, do programa curricular, da relação presencial, da mediação.

5 - O uso da tecnologia em substituição ao ensino presencial pode ampliar, ainda mais, a diferença de classes. Sabemos que o povo brasileiro está lutando para suprir as necessidades básicas de sobrevivência e nem sempre tem equipamentos e internet que possibilitem participar das atividades online, como se prevê no ensino híbrido. Este tipo de ensino não resolve o problema da desigualdade; antes o acentua.

6 - A luta pela escola pública de qualidade, para todas as pessoas, inclusiva, presencial e com segurança, requer que a escola esteja de fato equipada com as mais altas tecnologias. Não existe dualismo nesse sentido, entre a boa escola presencial e o emprego das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs), pois, se há recursos para implantação da proposta de ensino híbrido, eles deveriam ser usados na escola atual. Do mesmo modo, não se fundamenta a percepção de que o modelo presencial de aulas estaria vinculado a uma perspectiva defasada, enquanto a mera utilização de recursos tecnológicos significaria, por si só, um avanço no processo educacional.

7 - A educação presencial, sob os parâmetros apontados, favorece que as famílias possam ter suas rotinas de vida cotidiana, e de trabalho profissional mais bem organizadas.

8 - Não nos contrapomos à cultura digital, mas destacamos a necessidade de que todas as pessoas possam compreender o contexto atual e o papel que a tecnologia ocupa na sociedade, utilizando-a em favor de seu próprio desenvolvimento e da transformação da sociedade.

9 - O horário escolar não deve ser flexibilizado. É o horário de estudo, de promoção de desenvolvimento. Diante das contingências, evidencia-se a necessidade de ampliação da carga horária, considerando-se o papel fundante da Escola para o desenvolvimento integral, pleno dos sujeitos que por ela são atendidos.

10 - Flexibilizar o tempo de permanência no espaço escolar pode ampliar a precarização do ensino. A escola necessita garantir o acesso ao acervo de conhecimentos produzidos historicamente, precisa contribuir para o processo de humanização dos estudantes, por meio da apropriação da cultura.

11 - O documento analisado ressalta a possibilidade de autonomia do aluno, e deste dirigir o ensino. Essa defesa põe em discussão a importância e a valorização do trabalho da(o) professora(or) no processo ensino-aprendizagem. A(O) professora(or) é fundamental para socializar os conhecimentos curriculares, ele tem como norte a formação de base. Não há condições para que estudantes desenvolvam, sozinhas(os), o processo de apropriação dos conhecimentos. Entendemos que professora(or), aluna(o) e conteúdo curricular têm posições ativas no processo ensino-aprendizagem. Esse processo é ativo e não depende de um ensino híbrido para ser garantido.

12 - Experiências significativas se dão na escola e a partir dela, na interação com os pares. O ensino híbrido distancia professor-aluno e alunos-alunos. O contato presencial fortalece o vínculo entre as(os) partícipes do processo educativo. Existe uma unidade entre afeto e cognição, entre aquela(e) que ensina e aquela(e) que, dialeticamente, se apropria dos conhecimentos.

13 - A exposição às telas tem causado cansaço, e sem os limites de horários leva à sobrecarga de trabalho, comprometendo a saúde mental de alunos e professores.

14 - Uma proposta dessa amplitude precisa de tempo para ser analisada, refletida, debatida entre os vários setores que compõem a Educação Brasileira. Há equívocos conceituais importantes na proposta, perspectivas teóricas controversas apresentadas sem o rigor necessário, que demandam espaços de debate mais aprofundados para que possam ser elucidados. Diante destas e de outras razões, apontamos para os problemas que a aprovação da matéria em tela gera ou agudizam, bem como o estranhamento do prazo exíguo para que a sociedade possa realizar o debate necessário.

Em 26 de novembro de 2021,

Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional do Paraná - Abrapee/PR

Grupo de Trabalho Psicologia da Educação da Associação Brasileira de Pesquisa e PósGraduação em Educação - Anped GT 20 

Conselho Regional de Psicologia - CRP 8ª Região - Paraná

Associação Brasileira de Psicologia Social - Abrapso/Núcleo de Curitiba e Regional Paraná

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá - PPI/UEM.


(1) Disponível em: ‘Apresentação - Ministério da Educação (mec.gov.br). 

domingo, 20 de janeiro de 2019

Gestos causam polêmica em formatura de graduação em Educação Física

Bom domingo pessoal!!

Compartilhamos e fazemos conhecer posição contrária ao professor e grupo de estudantes formandos em Educação Física da UEPA.



MANIFESTO DE REPÚDIO E REFLEXÕES DO COLETIVO DE PROFESSORES/AS, PESQUISADORES/AS, ESTUDANTES, TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS E TRABALHADORES/AS TERCERIZADOS – LEPEL/FACED/UFBA (LINHA DE ESTUDO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FISICA ESPORTE E LAZER. FACULDADE DE EDUCAÇAO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA):

SOBRE A ATITUDE DO PROFESSOR CLÁUDIO BORBA E DOS ESTUDANTES HOMENS, FORMANDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA DA UEPA, CAMPUS XIII, DE TUCURUI, SUDOESTE PARAENSE, FAZENDO GESTO OBSCENO COM AS MÃOS SIMULANDO ÓRGÃO GENITAL FEMININO DURANTE ATO DE FORMATURA, REALIZADA EM 16/01/19, (QUARTA-FEIRA), NA COLAÇÃO DE GRAU, AS 17 HORAS NO CINE ROX, CONFORME DIVULGADO DIARIOONLINE.COM.BR POSTADO EM QUINTA-FEIRA 17/01/19 AS 18:40H ATUALIZADO EM 17/01/19 AS 19:37H





Nós, professores, pesquisadores, estudantes, técnico-administrativos e trabalhadores tercerizados, ligados ao Grupo LEPEL/FACED/UFBA (Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia), nos dirigimos ao professor Claudio  Borba e aos estudantes homens, formandos em Educação Fisica da UEPA, CAMPUS XIII, DE TUCURUI, SUDOESTE PARAENSE, que realizaram gesto obsceno com as mãos simulando órgão genital feminino, o que configura atitude desrespeitosa, preconceituosa e misogina,   durante ato de formatura realizada em 16/01/19 (quarta-feira), na colação de grau, as 17 horas no Cine Rox, conforme divulgado diarioonline.com.br postado em quinta-feira 17/01/19 as 18:40h atualizado em 17/01/19 as 19:37h, para estabelecer um respeitoso diálogo conscientizador, ao tempo em que, assim como o fez a administração central da Universidade repudiamos com veemência tal atitude porque deteriora nossa profissão.

Chamamos para o diálogo porque estamos vivendo um período de retrocessos enormes na nossa capacidade humana civilizatória, evidente nos avanços de posições protofascistas, de extrema-direita, causadora de males irreversíveis para a sociedade em geral. Tempos em que nos cumpre a tarefa histórica de recuperar valores, de convencer pessoas e de elevar a capacidade teórica e o controle da auto-conduta humana para o bem da sociedade em geral.

Nos indignamos porque não fomos formados para rebaixar as instituições, com atitudes preconceituosas e, muito menos com atitudes misógenas, desrespeitosas para com as mulheres, que tem contribuído, sim, para o feminicídio e demais formas de violência contra as mulheres que vem ocorrendo no país.

Queremos recuperar uma das mais belas razões de se escolher uma profissão como a nossa de professores de Educação Física. E o fazemos para despertar o senso crítico, tanto do professor Claudio Borba, quanto dos estudantes homens, a respeito da escolha de uma profissão. Nao foi para demonstrar atitudes desrespeitosas em uma formatura, que foram investidos recursos públicos, em uma instituição pública de respeito e de larga contribuição social, como a UEPA. A atitude de vocês – professor e estudantes homens – degradou a nossa profissão e por isto estamos protestando, estamos refutando com veemência tal atitude.

E para o diálogo conscientizador vamos nos valer da carta de Karl Marx sobre a escolha de uma profissão. Conforme menciona Karl Marx em carta de escrita entre 10 a 16 de agosto de 1835 escolhemos uma profissão para dignificar a humanidade.

Nos diz Karl Marx sobre a escolha de uma profissão:

“A própria natureza determinou uma esfera de atividade no qual os animais devem se mover, e eles pacificamente se movem dentro dessa esfera, sem tentar ir além ou sequer suspeitar de outra.
Para o homem, também, a divindade concedeu um objetivo geral, o de enobrecer a humanidade e a própria divindade. Mas ela deixou para o homem a tarefa de buscar os meios pelo qual esse objetivo pode ser alcançado, deixou para os homens o trabalho de escolher a posição na sociedade mais adequada a cada um, a partir da qual cada indivíduo pode elevar a si mesmo e a sociedade.
Essa escolha é um grande privilégio do homem perante o resto da criação, mas ao mesmo tempo, é um ato que pode destruir sua vida, arruinar seus planos e fazê-lo infeliz. Uma consideração séria dessa escolha é, portanto, a primeira tarefa de um jovem que está começando sua carreira e que não quer deixar suas questões mais importantes ao acaso.
Todos possuem um objetivo em vista, o qual ao menos para o possuidor parece ótimo, e realmente é quando sua mais profunda convicção, a mais profunda voz de seu coração, pronuncia que se é ótimo. A divindade nunca deixa os homens totalmente sem um guia, ela fala suavemente mas com certeza.
Mas essa voz pode ser facilmente afogada, e aquilo que tomamos como inspiração pode ser produto do momento, o qual outro momento pode, talvez, destruir. Nossa imaginação, às vezes, é incendiada, nossas emoções agitadas, fantasmas voam diante de nossos olhos e nós mergulhamos de cabeça nas mais impetuosas sugestões do instinto, as quais nós imaginamos que a própria divindade nos apontou. Mas aquilo que nós ardentemente abraçamos logo nos repele e vemos toda a nossa existência em ruínas.
Devemos, portanto, examinar seriamente se nós realmente fomos inspirados na escolha de nossa profissão, se nossa voz interior aprova isso, ou se essa inspiração é uma ilusão e o que tomamos como um chamado da divindade foi apenas autodecepção. Mas como podemos reconhecer essa ilusão sem rastrear a fonte da própria inspiração?
O que é ótimo brilha, e esse brilho desperta ambição, essa ambição pode facilmente ter produzido a inspiração, ou aquilo que tomamos como inspiração, mas, a razão não pode mais conter o homem que está tentado pelo demônio da ambição e ele mergulha de cabeça no que esse impetuoso instinto sugere: ele não mais escolhe sua posição na vida, em lugar disso, sua posição é determinada pelo acaso e pela ilusão.
Não somos chamados a adotar a posição que nos oferece as mais brilhantes oportunidades, essa não é aquela que, ao longo dos anos que talvez a manteremos, nunca irá nos cansar, nunca irá amortecer nosso zelo, nunca irá deixar nosso entusiasmo crescer frio, mas aquela no qual nós, em breve, veremos nossos desejos insatisfeitos, nossas ideias insatisfeitas e então invejaremos contra a divindade e amaldiçoaremos a humanidade.
Mas não é apenas ambição que pode despertar entusiasmo repentino por uma profissão em particular, nós talvez a tenhamos embelezado em nossa imaginação e embelezamento é a causa em razão da qual isso nos parece o que a vida tem de melhor a oferecer. Nós não a analisamos, não consideramos seus encargos totais, a grande responsabilidade que nos impõe, a vimos apenas de uma grande distância e distância é algo enganoso.
Nossa própria razão não pode nos guiar aqui, pois ela não é baseada na experiência nem na observação profunda, sendo enganada pela emoção e cega pela fantasia. Para quem então devemos nos voltar? Quem pode nos ajudar onde nossa razão nos trai?
Nossos pais, que já atravessaram a estrada da vida e experimentaram a severidade do destino, nosso coração nos diz isso.
E se mesmo assim nosso entusiasmo persistir, se nós continuarmos a amar uma profissão e crer que somos chamados para ela, mesmo após examiná-la a sangue frio, após termos considerados seus encargos e estarmos familiarizados com suas dificuldades, então nós devemos adotá-la, assim nem somos enganados pelo entusiasmo e nem a precipitação nos leva embora.
Mas nem sempre somos capazes de atingir a posição para a qual acreditamos sermos chamados, nossas relações sociais têm, até certo ponto, começado a serem estabelecidas antes mesmo de estarmos em uma posição para determiná-las.
Nossa própria constituição física é frequentemente um ameaçador obstáculo, que não deixa ninguém burlar seus direitos.
É verdade que podemos tentar passar por cima disso, mas então nossa queda será ainda mais rápida, nós estaremos nos aventurando a construir em cima de ruínas, assim toda nossa vida será uma infeliz luta entre o princípio mental e o físico. Mas quem é incapaz de reconhecer os elementos conflitantes dentro de si próprio, como pode ele resistir ao tempestuoso estresse da vida, como ele pode agir calmamente? E, é a partir da calma, sozinha, que grandes atos podem surgir, ela é o único solo onde frutos maduros se desenvolvem com sucesso.
Apesar de não podermos trabalhar por muito tempo e, raramente, felizes com uma constituição física que não é adequada à nossa profissão, o pensamento de sacrificar nosso bem-estar pelo dever, de agir vigorosamente apesar de sermos fracos, continua a surgir. Mas se nós escolhemos uma profissão para qual não possuímos talento, nunca poderemos exercê-la dignamente, nós logo perceberemos, com vergonha, nossa incapacidade e diremos à nós mesmos que somos criaturas inutilmente criadas, membros da sociedade que são incapazes de cumprir sua vocação. Então a mais natural consequência é autodesprezo, e qual sentimento é mais doloroso e menos capaz de ser compensado por tudo o que o mundo exterior pode oferecer? Autodesprezo é uma serpente que roí o peito, suga o sangue vital do coração e mistura-o com seu veneno de misantropia e desespero.
Uma ilusão acerca de nossos talentos é um erro que se vinga de nós, e mesmo que não encontremos com a censura do mundo exterior, isso faz surgir uma dor mais terrível em nosso coração do que a dor infringida pela censura.
Se nós considerarmos tudo isso, e se as condições de nossas vidas permitirem que escolhamos qualquer profissão que gostarmos, nós podemos adotar aquela que nos assegura maior valor(1), aquela baseada em ideias cuja veracidade estamos completamente convencidos, que nos ofereça o âmbito mais amplo para trabalharmos pela humanidade e para nós mesmos chegarmos perto do objetivo geral para o qual cada profissão é apenas um significado: perfeição.
O valor de uma profissão é aquele que mais ergue um homem, o qual transmite alta nobreza à suas ações e seus esforços, que o faz invulnerável, admirado pela massa e elevado acima dela.
Mas valor somente pode ser assegurado por uma profissão a qual não seremos apenas ferramentas servis, mas na qual agimos independentemente em nossa própria esfera. Só pode ser assegurado por uma profissão que não demande atos repreensivos, mesmo se repreensivos apenas na aparência, uma profissão onde o melhor pode seguir com nobre orgulho. A profissão que assegurar essas condições, no mais alto grau, nem sempre é a mais alta, mas sempre é a mais preferível.
Entretanto, assim como uma profissão que não nos assegura valor nos degrada, nós certamente sucumbiremos sob os fardos de uma que se baseia em ideias que mais tarde reconheceremos como falsas.
Não temos outro recurso senão o autoengano e a salvação desesperada, aquela obtida pela autotraição.
Essas profissões que não são tão envolvidas com a vida como são preocupadas com verdades abstratas são as mais perigosas para um jovem cujos princípios ainda não são firmes e cujas convicções ainda não são fortes e inabaláveis.
Ao mesmo tempo, essas profissões parecem ser as mais exaltadas caso tiverem raízes profundas em nossos corações e se somos capazes de sacrificar nossas vidas e esforços pelas ideias que nelas prevalecem.
Elas podem conceder felicidade ao homem que tem vocação para elas, mas destroem quem as adota precipitadamente, sem reflexão, cedendo aos impulsos do momento.
Por outro lado, a grande consideração que temos pelas ideias as quais nossa profissão é baseada nos dá uma alta posição na sociedade, aumenta nosso valor e torna nossas ações incontestáveis.
Quem escolhe uma profissão que valoriza muito, estremecerá a ideia de ser indigno a ela, ele irá agir de maneira nobre apenas se sua posição for nobre.
Mas o guia que deve nos conduzir na escolha de uma profissão é o bem-estar da humanidade e nossa própria perfeição. Não se deve pensar que esses dois interesses possam estar em conflito, que um tenha que destruir o outro, pelo contrário, a natureza humana é constituída de modo que ele apenas pode alcançar sua própria perfeição trabalhando pela perfeição, pelo bem, de seus iguais.
Se ele trabalhar apenas para si mesmo, ele pode até se tornar famoso, um grande sábio, um excelente poeta, mas ele nunca poderá ser perfeito, um homem pleno.
A história chama de grandes esses homens que se enobreceram trabalhando pelo bem comum, a experiência aplaude como o mais feliz aqueles que fizeram o maior número de pessoas felizes, a própria religião nos ensina que o ser a quem todos devem se espelhar se sacrificou pelo bem da humanidade, e quem se atreveria a reduzir a nada tais julgamentos?
Se escolhermos a posição na vida a qual podemos trabalhar pela humanidade, nenhum encardo irá nos pôr para baixo, pois esses encargos são sacrifícios pelo bem de todos, então não experimentaremos alegria mesquinha, limitada e egoísta, mas nossa felicidade irá pertencer à milhões, viveremos de ações silenciosas mas em constante trabalho, e sobre nossas cinzas serão derramadas quentes lágrimas de pessoas nobres”.

Portanto, pelo valor ético, pela beleza estética, e pela cientificidade deste conselho, contido nesta belíssima Carta, pela atualidade deste conteúdo, por ser propício para elevar nossa capacidade reflexiva e por nos permitir tirar lições, é que enviamos na íntegra a carta, almejando que tanto o professor, quanto os estudantes, homens, se retratem, peçam desculpas, a sociedade que os mantiveram na Universidade Pública, pagando o salário dos professores e os estudos dos estudantes. Peçam desculpas a todos nós profissionais, professores de Educação Física chocados, esterrecidos com vossa atitude misógena, no ato da formatura. Se disponham a realizer trabalho comunitário socialmente útil, em comunidades, em situação de risco social, para vos redimir de atitude aviltosa a toda a sociedade e a todos nós professores de Educação Física.  

SALVADOR, 18 DE JANEIRO DE 2019.

LEPEL/FACED/UFBA






REFERENCIA CARTA DE KARL MARX:
Primeira Edição: Archiv für die Geschichte des Sozalismas und der Arbeiterbewegung, Ed. K. Grünberg, Leipzig, 1925; escrito entre 10 e 16 de Agosto de 1835.
Fonte: https://www.marxists.org/portugues/marx/1835/08/16.htm

Notas de rodapé:
(1) O valor a que se refere Marx no trecho não é o valor monetário (Value) e sim o valor pessoal (Worth). Nota da tradução.

terça-feira, 13 de março de 2018

II COLÓQUIO LECTURI: o estudo da linguagem em Jakubinskij, Bakhtin e Volochinov

Olá pessoal,

Será realizado no período de 16 a 18 de Maio de 2018, o  II COLÓQUIO LECTURI: o estudo da linguagem em Jakubinskij, Bakhtin e Volochinov, nas instalações do Anfiteatro 5R – C e D Campus Santa Mônica /UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
PERÍODO DE INSCRIÇÃO: De 01 de março a 10 de maio de 2018. 

A inscrição será realizada mediante preenchimento do formulário disponível e do pagamento da taxa. No final do preenchimento do formulário será gerado um boleto bancário com o valor correspondente à categoria indicada.

OBJETIVO GERAL Ampliar o debate e a reflexão sobre o conceito de linguagem na perspectiva de Jakubinskij, Bakhtin e Volochinov e analisar suas contribuições para o ensino da língua materna a partir de múltiplos lugares na educação de crianças, jovens e adultos nos espaços escolares e não escolares. 

PÚBLICO–ALVO Estudantes de graduação e pós-graduação das áreas da Educação e Letras, professores de Educação Básica e Superior, lingüísticas, filósofos, pesquisadores da área de Linguagem e interessados nos estudos da Linguagem. 

Mais informações e Programação    ACESSE O FOLDER

Inscrições     ACESSE A PAGINA DE INSCRIÇÕES

quinta-feira, 1 de maio de 2014

1° de Maio - Trabalhadores despertai!

Eu não poderia encontrar uma imagem que retratasse melhor o que venho pensando sobre a importância da organização dos trabalhadores em prol de uma sociedade mais justa, mais humana onde o Estado não é alheio e nem refém do mercado e suas artimanhas para explorar os trabalhadores. A luta é permanente e a organização coletiva é a principal e mais importante ARMA do trabalhador e da trabalhadora contra o patrão, contra o Estado.

"Trabalhadores, despertai!"

Professores, enfermeiros, comerciários, domésticos, operários, assalariados portanto, DESPERTAI!

VALENTIN SEROV - Valentin Alexandrovich Serov (January 19, 1865 – December 5, 1911) foi um pintor Russo e um dos mais premiados  artistas de retratos de sua era.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Você autorizaria para seu filho?

Os dados estão afirmando que o Brasil é o segundo maior consumidor de Ritalina, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Me prece um caso bastante grave e que precisa ser enfrentado tanto pelos pais, quanto pelos educadores nas escolas.

Qual é o problema do aluno ou qual é a escola que está sendo oferecida ao aluno? Talvez, se tivermos coragem de fazer essa pergunta e honestidade para respondê-la, poderemos começar a caminhar numa direção mais esperançosa de uma família e uma escola que trate com dignidade, respeito e valor as crianças.

Mas note, que antes da escola e dos educadores, eu menciono a família e os pais como primeiros responsáveis para iniciar esse processo. Que também pode ser iniciado de maneira partilhada entre família e escola.




sábado, 17 de agosto de 2013

Paulo Freire: 40 anos através de 40 leituras diferentes

Hoje, estou participando da Deriva Fotográfica do Bem e como uma das consequências dessa atividade é descobrir  o novo no meio do já conhecido, aproveito para divulgar uma obra que pelo título já me aguçou diversas idéias, reflexões e curiosidades, onde 40 personalidades, umas mais conhecidas outras menos, trazem seus olhares sobre a obra de Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido.

Faça o download, leia e amplie-se.



Acesse o arquivo AQUI

quarta-feira, 20 de março de 2013

Hoje, as 19:00 - Encontro Virtual de Educadores



1º Encontro Virtual de Educadores

Evento online e gratuito

Data: 20 de março de 2013

Horário: 19:00

Link para inscrições:
http://www.netsalas.com.br/eventos/vitor_mattoso/livro_mar.htm



Público alvo:
Profissionais da área educacional: professores, coordenadores pedagógicos, psicólogos, psicopedagogos, pais e responsáveis de crianças e adolescentes e interessados no tema.


Descrição:
O I EVE - Encontro Virtual de Educadores promoverá o lançamento virtual do livro "1 Pai, 1 Mãe e 500 Filhos - Como conquistar, educar e proteger crianças e adolescentes", escrito por Vitor Mattoso.


Programação:
1. Plantando a semente
2. A educação e a tecnologia
3. II EVE - Participe ou faça você mesmo
4. Lançamento do livro
5. Dúvidas e trocas de informações

sábado, 9 de março de 2013

Seminário de Educadores de Museus

Divulgo a programação do IV Seminário da Rede de Educadores em Museus de Goiás "Educação, Museus e Cidades". 












Mais informações e inscrições acesse o link

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sobre Índios fora do calendário escolar

Há escolas e educadores que utilizam-se do calendário para planejar as ações pedagógicas da escola. Até aí tudo bem, mas há no meu entendimento alguns equivocos.

Trata-se da orientação de que as temáticas ou conhecimentos temáticos  ou conteúdos sejam tratados apenas ou exclusivamente na dimensão temporal da comemoração do calendário. 

Fala-se ou ensina-se sobre os índios apenas na segunda quinzena do mês de Abril e por aí vai as demais datas comemorativas.

Faço então um desafio e questiono os educadores seguidores ou visitantes deste blog, para refletir sobre a importância do trato pedagógico do conhecimento humano em qualquer época do calendário escolar. 

Para isso, vai aí uma contribuição para a reflexão e a prática do planejamento pedagógico, sobre saberes das práticas corporais indígenas, retratada nesse volume BRINCAR, JOGAR, VIVER - IX Jogos dos povos indígenas, organizado pelas professoras Leila Mirtes e Beleni Grando.


http://www.4shared.com/rar/Kr0D7PuB/Brincar_Viver_Jogar_-_JOGOS_IN.html


Vale o clique e o download

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Museu da República Virtual

Para quem gostaria de conhecer a história da República mas não conseguiu se organizar para ir ao Museu no Rio de Janeiro, vai aí uma dica para uma Visita Virtual no Museu da República.


Para educadores, há um espaço educativo com sugestão de oficinas, publicações, jogos educativos.

Ou conheça outros Museus virtualmente clicando aqui

Mas, programe-se para uma visita no Museu a qualquer época do ano.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cartilha sobre Consumismo Infantil e Sustentabilidade

http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/Arquivos/downloads/ebooks/caderno.pdf
Instituto Alana e Ministério do Meio Ambiente lançam cartilha sobre relação entre consumismo infantil e sustentabilidade com dicas e sugestões para pais e educadores.


Vale o clique na imagem para download

quinta-feira, 10 de maio de 2012

I Conferência Ferramentas e Inovação na Educação Especial - Lisboa

PsicoSoma apresenta este ano a I Edição da sua Conferência Ferramentas e Inovação na Educação Especial, a realizar no dia 16 de Junho, das 9:30 às 17:00 no Auditório CasaPianona cidade de Lisboa, mais precisamente em Belém.
I Conferência Ferramentas e Inovação na Educação Especial PsicoSoma 2012 visa abordar as ferramentas e inovações desenvolvidas na área da educação especial, os projectos inovadores, novas aplicações, bem como estudos inovadores e actuais, de modo a possibilitar ao público um dia de actualização.

Mais informações clique AQUI