A pergunta que a imprensa conservadora aprisiona e
dissimula num labirinto atordoante de impasses sem fim emerge de forma
quase selvagem no noticiário dos últimos dias. À revelia da camuflagem
de classe, o aguçamento da crise injeta progressiva nitidez a certas
arguições da história: quem vai prover o saneamento das finanças
públicas endividadas no ciclo de liquidez neoliberal e, em muitos
países, falidas posteriormente no socorro aos mercados?
De onde
sairá o dinheiro necessário para retomar investimentos, sobretudo em
infraestrutura ambiental, na reciclagem do urbanismo do petróleo para o
urbanismo verde, ademais de adequar, expandir e qualificar os serviços
públicos nessa direção; construir pontes entre a era do petróleo e a era
da energia sustentável; educar adolescentes para o discernimento social
e a liberdade em comunhão coletiva; vencer a fome; reciclar
profissionais maduros, implantar enfim os programas que vão resgatar o
emprego, a renda e o futuro da vida em sociedade?
Essa revolução
demandada pelo século XXI virá do arrocho fiscal ou de uma maior
justiça social, a começar pela justiça tributária? Convergirá dos cortes
de gastos com desemprego crescente e o sucateamento da esfera pública,
como no modelo prescrito à Grécia? Ou terá o resgate do interesse
público como eixo regenerador da economia, da democracia e da sociedade?
Se a resposta parece clara para a esquerda, ou ao menos para uma parte
dela (LEIA o especial deste fim de semana de Carta Maior sobre a crise)
sua implementação carece de coerência e mobilização.
Colonizada pelo neoliberalismo, a tergiversação da socialdemocracia, por exemplo, ameaça desmoralizar instrumentos que podem fazer a diferença entre a redenção ou a catástrofe econômica e e social. Nas mãos esquivas do conservadorismo, assumido ou dissimulado, a tributação simbólica sobre a riqueza serve apenas de lubrificante para dobrar a aposta e tratar a crise com as suas próprias causas. Vem da Espanha de Zapatero um exemplo desconcertante de como incorporar uma bandeira para inverter o seu sentido, demoralizando-a. "Uma semana de confusão e eternas discussões nas fileiras socialistas mostrou como é difícil para a classe política espanhola desembarcar de trinta anos de aplicação de políticas neoliberais", explica o correspondente de Carta Maior em Madrid, Oscar Guisoni.
Colonizada pelo neoliberalismo, a tergiversação da socialdemocracia, por exemplo, ameaça desmoralizar instrumentos que podem fazer a diferença entre a redenção ou a catástrofe econômica e e social. Nas mãos esquivas do conservadorismo, assumido ou dissimulado, a tributação simbólica sobre a riqueza serve apenas de lubrificante para dobrar a aposta e tratar a crise com as suas próprias causas. Vem da Espanha de Zapatero um exemplo desconcertante de como incorporar uma bandeira para inverter o seu sentido, demoralizando-a. "Uma semana de confusão e eternas discussões nas fileiras socialistas mostrou como é difícil para a classe política espanhola desembarcar de trinta anos de aplicação de políticas neoliberais", explica o correspondente de Carta Maior em Madrid, Oscar Guisoni.
Em seu artigo deste fim de semana (leia ‘O sonhado imposto espanhol sobre as grandes fortunas: muito barulho por nada') Guisoni mostra como o PSOE fez da tributação dos ricos uma renúncia disfarçada de audácia.
Resguardado num estágio bem anterior a esse, o conservadorismo brasileiro afia as unhas, porém, para não deixar dúvida quanto a sua opinião sobre as alternativas postas pela crise. Hoje ele se concentra em reprovar o corte dos juros e vetar a taxa de 0,1% sobre lucros financeiros que poderia viabilizar um substituto mais justo à CPMF. Mas já tem um plano B, que consiste em desautorizar o Estado como se a corrupção fosse um rio de margem única (leia entrevista de Jorge Hage a André Barrocal nesta página.)
Resguardado num estágio bem anterior a esse, o conservadorismo brasileiro afia as unhas, porém, para não deixar dúvida quanto a sua opinião sobre as alternativas postas pela crise. Hoje ele se concentra em reprovar o corte dos juros e vetar a taxa de 0,1% sobre lucros financeiros que poderia viabilizar um substituto mais justo à CPMF. Mas já tem um plano B, que consiste em desautorizar o Estado como se a corrupção fosse um rio de margem única (leia entrevista de Jorge Hage a André Barrocal nesta página.)
Postado por Saul Leblon às 13:49 - www.cartamaior.com.br